quarta-feira, 17 de março de 2010

Perda, privada e práxis



Estou lendo um livro escrito pelo Ed René Kivitz, chamado O livro mais mal-humorado da Bíblia, que aprofunda um estudo sobre as angústias e incertezas do Eclesiastes. Nesse livro, percebemos como vivemos numa vida em que somos reféns do tempo e do acaso e que muito pouco podemos fazer a respeito para que consigamos mudar uma certa circunstância.

Parece uma visão pessimista ao extremo, mas, como diz o próprio autor do livro, na verdade ela é realista. Sim, todos nós estamos suscetíveis a todo o tipo de situação nesse mundo, seja ela boa ou má. Mas uma coisa, o Eclesiastes sabe: o que nos resta é a confiança em Deus. Tá bom, duas coisas: e que devemos aproveitar a vida da forma mais sábia, amando as pequenas coisas da vida, dando valor a elas.

Este preâmbulo todo que me fez abrir esse post é apenas para relatar uma pequena coisa, mas que percebemos o valor que damos a cada situação (corriqueira) da vida. Aí vai a história:

Minha sobrinha Bia, de um aninho foi em casa um dia desses e em um momento que minha filha, Raquel, precisou ir ao banheiro, ela foi junto com uma bonequinha da personagem Moranguinho nas mãos. Quando minha esposa disparou a descarga, a minha pequena sobrinha tacou a bonequinha dentro da privada e que teoricamente teria ido literalmente pro ralo. Digo teoricamente porque a bendita da boneca ficou presa na passagem para o encanamento, pois ela tinha um chapelão preso na cabeça que impediu que a mesma fosse conhecer os esgotos de São Paulo.

Só que fomos perceber o tal entalamento no dia seguinte após alguns depósitos fecais insistirem em não ir embora. Pois bem, no dia seguinte, lá vai eu tentar algum procedimento para desentalar a Moranguinho (com chocolate) da nossa privada. Enfiei a mão num saco plástico, amarrei um elástico no ante-braço e fui escarafunchar degetos para o resgate supremo da chapeluda boneca. Nisso, a Raquel pegou um banquinho e começou a assistir o meu martírio de camarote, na esperança de rever a sua Moranguinho.

Cutuca de lá, cutuca de cá, descargas para tentar limpar o ambiente e depois de tanto mexer, enfim, consigo puxar a danadinha e nojentinha boneca. – Consegui!, gritei. – Deixa eu ver, papai!, ansiava a minha filha. O estado dela não era nada agradável. Mostrei para ela e falei que infelizmente ela não teria mais como brincar com ela, pois ela tava muito suja e teríamos que jogar fora. Foi o que eu fiz. Enfiei num saco plástico e joguei no lixo externo do prédio.

Quando eu voltei, encontrei minha filha deitada na cama com a minha esposa aos prantos. – Minha Moranguinho, minha Moranguinho... – Calma, você vai ganhar outra, dizia mamãe cuidadosa. No dia seguinte, minha filha estava muito feliz porque estava assistindo o desenho da Cinderela que ela gosta muito...

A perda, em qualquer de suas proporções, nos faz perceber a nossa pequenez em relação ao acaso desse mundo e na nossa impossibilidade de controle total de nossas vidas. Por isso, como no Eclesiastes, que sejamos guiados pelo vento, pelo Espírito, para que, em meio à perda, tenhamos consciência de que esse mundo incontrolável (para nós), pode ser muito bem aproveitado por quem percebe que o outro dia é um novo dia...

Nas devidas proporções, é isso.

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